
Do total de casos, 170 foram resolvidos em 2024, enquanto 750 continuam sob investigação, indicando a complexidade e o volume de recursos exigidos para apurar irregularidades.
A Comissão de Mercado de Capitais (CMC) identificou, em 2024, 920 transacções suspeitas de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, incluindo a proliferação de armas de destruição maciça. O número representa um aumento de 246% face aos 266 casos registados no mesmo período de 2023, revelando uma escalada preocupante, mas também avanços na capacidade de fiscalização do regulador angolano.
Aumento de casos sinaliza maior capacidade de detecção
De acordo com o relatório anual da CMC, o salto nos casos suspeitos está directamente ligado à melhoria dos mecanismos de monitorização e ao reforço dos sistemas de compliance em instituições financeiras não bancárias, como sociedades de investimento e corretoras.
“As instituições estão mais atentas e capacitadas para reportar operações atípicas. Isso não significa necessariamente mais crime, mas sim maior eficiência ao detectar”, explicou a CMC em resposta à Economia e Mercado.
Do total de casos, 170 foram resolvidos em 2024, enquanto 750 continuam sob investigação, indicando a complexidade e o volume de recursos exigidos para apurar irregularidades.
MBTT: quando o tamanho realmente importa…
O Mercado de Bolsa de Títulos de Tesouro (MBTT), principal plataforma de negociação de dívida pública angolana, foi o segmento mais abrangido pelas suspeitas. A CMC ressalva, porém, que a exposição do MBTT não reflecte fragilidade específica, mas sim sua dominância no mercado de capitais local, responsável pela maior parcela de investimentos e transações.
“O MBTT é o motor do mercado. Naturalmente, concentra maior atenção e fluxos, o que exige supervisão reforçada”, destacou o regulador.
Comparação com Outras Bolsas Africanas: Angola na Vanguarda da Fiscalização?
Enquanto Angola enfrenta um surto de casos reportados, outras bolsas africanas lidam com desafios distintos na luta contra o branqueamento.
O mercado nigeriano (NGX), o maior da África Ocidental, tem histórico de casos de fraude e “pump-and-dump”, mas avançou nos últimos anos com sistemas digitais de rastreamento. Em 2023, a SEC local reportou 410 transacções suspeitas, número baixo frente à dimensão do mercado, levantando questões sobre subnotificação.
A bolsa de Joanesburgo (JSE), a mais sofisticada do continente, utiliza inteligência artificial para detectar padrões suspeitos, mas enfrenta desafios com esquemas transnacionais ligados ao cibercrime.
Em Nairóbi, Quênia (NSE), a falta de integração entre instituições financeiras e a baixa adopção de tecnologias de compliance limitam a eficácia das investigações.